A rara boa notícia, onde ainda somos fracos
terça-feira, julho 28, 2009 | Author: Blog da redação
Roberto Lopes

O recebimento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no último dia 21, da primeira câmera fotográfica fabricada no Brasil – nesse caso em São Carlos (SP) – apta a funcionar a bordo de satélites artificiais, é rara boa notícia num campo científico, o da pesquisa espacial, onde o Brasil tem andado de lado – quando não, para trás.
A MUX, uma câmera multiespectral de 20 metros de resolução no solo que produz imagens destinadas ao monitoramento ambiental e gerenciamento de recursos naturais, foi desenvolvida e produzida pela empresa Opto Eletrônica. O plano do Inpe é instalá-la nos satélites espaciais sino-brasileiros CBERS 3 e 4, que entrarão em órbita da Terra a partir de 2011.
O Inpe já prometia que a indústria nacional teria um modelo desses 20 anos atrás, quando se preparava para assinar um acordo com o governo de Saddam Hussein.
O plano, naquela época, consistia em vender ao Iraque um satélite de reconhecimento militar, e um de seus principais entusiastas era o engenheiro paulista Márcio Barbosa, então diretor-geral do Inpe – o mesmo que hoje luta para se eleger diretor-geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Mas o assunto vazou para a imprensa, os Estados Unidos reagiram negativamente e a idéia foi abandonada.
De lá para cá, os programas brasileiros de pesquisa espacial amargaram reveses marcantes.
O mais grave deles aconteceu em 2003, quando uma explosão acidental na plataforma de lançamentos da base maranhense de Alcântara, matou a nata dos projetistas brasileiros de foguetes.
Antes disso, porém, já havíamos protagonizado um vexame internacional.
Na virada da década de 1990 para os anos 2000, as autoridades de Brasília foram advertidas pela agência espacial americana de que a indústria nacional estava atrasada na entrega de alguns pequenos componentes (painéis externos e compartimentos de armazenamento) destinados à Estação Espacial Internacional (ISS). O Brasil fora o único país latino-americano convidado a participar desse projeto – e falhou. Os componentes nunca foram entregues.
Ainda hoje estamos incumbidos de algumas peças secundárias da ISS. A encomenda é uma espécie de prêmio de consolação, ou saída honrosa, para que a pesquisa espacial brasileira não contabilize apenas o fracasso.
A tarefa agora é produzir umas “placas adaptadoras”, chamadas de FSEs - Flight Support Equipments (equipamentos de suporte de vôo), cujo valor para o sucesso, ou não, das pesquisas de alto nível em curso na ISS é, diga-se, nenhum. Mas o Senai (isso mesmo, o velho Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial!) vai nos salvar.
A Agência Espacial Brasileira – que muitos nem sabem que existe – assinou um contrato com o Senai para a criação, o controle e a montagem dos protótipos das “placas adaptadoras”. De graça naturalmente – porque o dinheiro para a pesquisa espacial no Brasil anda, como sempre, curto.
Com os satélites do projeto CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite) – comandado pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial -, o Brasil monitora desmatamentos e a expansão urbana e da agropecuária, entre outras aplicações.
O CBERS é hoje um dos principais programas de sensoriamento remoto em todo o mundo, ao lado do norte-americano Landsat, do francês Spot e do indiano ResourceSat, e a qualificação do Brasil nessa área, apreciável. O segredo disso foi só um: trabalho sério. No caso, a união de esforços de um grupo de entidades oficiais e ministérios (militares e civis) que julgaram necessário desenvolver a sua capacidade de olhar para o território nacional a partir do espaço sideral.
A indústria de equipamentos espaciais, contudo, ainda se arrasta.
Perdida no meio de suas parceiras da Associação Brasileira das Indústrias Aeroespaciais (Embraer, Avibras e outras gigantes), que reúne os fabricantes de produtos aeronáuticos, de Defesa e espaciais, ela é uma espécie de prima pobre – que o governo trata sem prioridade ou prestígio.
Em 2005, ano em que o setor aeroespacial brasileiro obteve uma receita de US$ 4,3 bilhões, o segmento espacial contribuiu com apenas 0,24% desse faturamento. Ano passado o índice saltou para 0,57%, o que pode parecer um avanço apreciável, mas a verdade é que o resultado em números continuou modesto.
Em 2008 os equipamentos espaciais faturaram US$ 43 milhões de dólares, para uma receita geral do setor aeroespacial que bateu no patamar dos US$ 7,55 bilhões.
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