Embalagem indica se alimento está impróprio para consumo
terça-feira, abril 16, 2013 | Author: Blog da redação
Por Da Redação - agenusp@usp.br

Um novo tipo de embalagem biodegradável para alimentos, criada em pesquisa da Escola Politécnica (Poli) da USP, muda de cor quando o produto começa a se deteriorar, indicando aos consumidores que está impróprio para o consumo. A embalagem, feita com fécula de mandioca, possui um pigmento chamado antocianina, que altera sua cor quando há mudança no pH  do produto (passando de ácido para básico), que acontece durante o processo de deterioração. O projeto foi criado pela engenheira agroindustrial Ana Maria Zetty Arenas, no Laboratório de Engenharia de Alimentos da Poli, e pode ser usado em embalagens de peixe cru.

Filme para embalagem com cor alterada pela mudança de pH do alimento (à esquerda)
“O estudo faz parte de um projeto que visa produzir filmes biodegradáveis com fécula de mandioca para utilização em embalagens, agregando algum tipo de funcionalidade além da proteção do produto”, conta a professora Carmemn Tadini, do Departamento de Engenharia Química da Poli, que coordenou a pesquisa. “Atualmente, também são desenvolvidas embalagens que possuem princípios ativos com ação antimicrobiana, para minimizar ou evitar o crescimento de micro-organismos, e outras que funcionam como dispositivos para liberação de medicamentos, chamadas de embalagens ‘ativas’”.
Na elaboração da embalagem foi adicionada a antocianina, um pigmento natural responsável pela ampla gama de cores (azul, violeta, vermelho e rosa) na maioria das flores e dos frutos. “Os grupos de moléculas metoxila e hidroxila, além da presença do açúcar e de ácido, têm um efeito importante sobre a cor e a estabilidade das antocianinas”, descreve Carmen. “Com o aumento do número de hidroxilas, a coloração das antocianinas muda de rosa para azul ou cinza. Essa mudança pode ser verificada, por exemplo, no repolho roxo, na uva e na jabuticaba”, acrescenta. Na pesquisa, foi testado o efeito do pigmento em embalagens de peixe cru, do tipo que é vendido em supermercados.
A professora explica que quando o peixe começa a se deteriorar, ocorre um aumento do pH devido à decomposição de aminoácidos e da ureia e à desaminação oxidativa da creatina, liberando aminas voláteis que dão origem ao chamado “cheiro de peixe podre”. “O pH da carne aumenta até ser tornar básico, ou seja, maior do que 7, processo que dura cerca de três dias”, afirma. “A embalagem com a antocianina, que tem uma cor vermelha muito intensa, em contato com as moléculas voláteis vai ficando cinza-escuro”.
Vida de prateleiraA Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece que o peixe com pH acima de 6,8 é considerado impróprio para consumo. “Nos testes da embalagem com antocianina, a mudança de cor aconteceu somente depois que o pH ultrapassou o limite estabelecido”, diz Carmen. “Além da mudança de cor ser percebida visualmente, ela também foi confirmada por meio de equipamentos de medida analítica de cor”.

Cor de filme biodegradável de fécula de mandioca vem do pigmento antocianina
De acordo com a professora, a antocianina pode ser utilizada na produção de uma “embalagem inteligente” (“smart package”). “O filme funcionaria como uma espécie de vitrine, com a embalagem incluindo uma paleta de cores para informação ao consumidor”, explica. “A vida de prateleira do produto pode terminar antes do prazo estimado, devido, por exemplo, a microfissuras que eventualmente apareçam na embalagem. Dessa forma, a mudança de cor alertaria aos consumidores e também aos comerciantes de que o produto se tornou impróprio para ser comercializado e consumido”.
Para a embalagem ser utilizada em escala industrial serão necessários testes de fabricação do produto em uma planta-pliloto. “Isso é necessário já que a produção de embalagens exige grandes volumes de produção”, afirma a professora. “ No momento, a eficiência da embalagem já foi comprovada em testes de laboratório. Além de ser resistente e proporcionar selagem térmica, ela também pode ser confeccionada em forma de bolsa”.
A pesquisa foi tema da dissertação de mestrado de Ana Maria, intitulada Filme biodegradável a base de fécula de mandioca como potencial indicador de mudança de pH. O trabalho foi apresentado na Poli no último dia 26 de junho.
Imagens: cedidas pela pesquisadora
Capitalização de moradia adequada causa formação de favelas
segunda-feira, abril 01, 2013 | Author: Blog da redação
Por Da Redação - agenusp@usp.br


Famílias se viram obrigadas a estabelecerem habitações precárias
A modernização e urbanização em São Paulo nas primeiras décadas do século 20 forçaram a população pobre e rural a constituir uma massa trabalhadora urbana que, diante da ausência de moradias acessíveis, formaram os primeiros núcleos de habitação informal da cidade, como antiga Favela Vergueiro, área hoje ocupada pela Chácara Klabin. Neste contexto, entre outros fatores, o Estado assumiu o papel de agente formador de favelas ao permitir a capitalização do acesso a moradias em condições adequadas.
Esses apontamentos estão na pesquisa de Fernão Lopes Ginez de Lara, realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Segundo o autor, formado em Geografia, políticas sustentadas pelo Estado oferecem mais garantias às empresas do que às pessoas e seus direitos básicos. “As políticas de desfavelamento tiveram e ainda tem ampla aceitação pública, e esse público não percebe que elas são estritamente intervencionistas e aplicam fortes restrições à vida das pessoas”, diz o pesquisador.
O trabalho de mestrado Mobilização e desenvolvimentismo: formação das primeiras favelas de São Paulo e a favela Vergueiro, orientado pelo professor Anselmo Alfredo, do Departamento de Geografia da FFLCH, permite inferir que as políticas e as legislações desfavorecem o direito à moradia. Lopes destaca que mesmo a constituição do Estado é determinada por interesses do capital e não das pessoas, ao garantir a propriedade imobiliária e dispôr meios para particulares recuperarem as áreas reivindicadas utilizando, inclusive, a polícia militar no processo.
Fatores
Segundo Lopes, é consenso que a formação de favelas teve maior crescimento em 1970, porém sua pesquisa mostra que já anteriormente houve ascensão desses núcleos de habitação e tentativas de implantar políticas de desfavelamento. Os fatores que favoreceram a formação destes núcleos foram a vinda de imigrantes, a valorização de áreas centrais da cidade, a industrialização e o êxodo rural da população pobre.
Submetidas à atuação do mercado imobiliário, famílias se viram obrigadas a habitar de maneira precária alguns terrenos para, em seguida, serem determinadas como invasoras. “As favelas funcionavam como receptáculo desta população” diz o pesquisador. Para ele, as políticas de desenvolvimentismo e sanitarismo estimulavam a indústria, com construção de avenidas e grandes obras públicas, e criavam condições que ampliaram o mercado em São Paulo, ao mesmo tempo em que desalojavam moradores pobres para “abrir caminho para o progresso”. “O desenvolvimentismo também ampliou as condições para a pobreza e miséria, próprias desse novo momento do capitalismo”, explica Lopes, acrescentando que “as pessoas desalojadas eram realocadas em locais inadequados e provisórios, com limite de escolha mínimo”.
Ainda sobre a Favela Vergueiro, Lopes diz que, inicialmente, a própria família Klabin oferecia seus terrenos para arrendamentos rurais, na tentativa de manter a posse da grande área — 775 mil metros quadrados (m²) —, mas perdeu o controle sobre os lotes e apelou para a disputa jurídica para retomar o terreno. O que foi um problema para a família Klabin, após 40 anos se tornou um grande negócio. “Após a desapropriação das famílias que ali moravam, houve um incrível aumento do preço da terra” conta Lopes. A sua pesquisa baseou-se em processos judiciais, jornais, filmes e literatura associada à época, além de algumas entrevistas de alguns vizinhos à área ocupada pela antiga Favela Vergueiro.
Histórico
Lopes também estudou na sua dissertação a formação de movimentos de desfavelamento, empenhados na extinção das favelas, iniciados na década de 1960 e apoiados tanto por representantes conservadores da sociedade quanto pela esquerda católica da época. Políticas como reassentamentos em regiões isoladas e envio de famílias migrantes a suas cidades de origem eram já bem aceitas por setores da população. Essas políticas eram externas, assistencialistas e não contavam com a participação dos moradores das áreas ocupadas. Nos anos 1980, a sociedade começou a questionar as políticas de desalojamento e houve crescimento dos movimentos sociais de defesa dentro das próprias comunidades.
Durante a preparação do mestrado, o pesquisador pode acompanhar a retomada da posse do terreno ocupado pela Comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, e narrou os fatos no seu trabalho. “Essas desapropriações remetem à Canudos” conta. O objetivo de sua pesquisa era investigar a modernização capitalista do Brasil e a os problemas surgidos com a ela. “Tentei fazer um paralelo da urbanização com a formação brasileira”. O grupo de pesquisa do qual Lopes participou para escrever sua dissertação promove leituras da obra O Capital, de Karl Marx.
Imagem: Cecilia Bastos/USP Imagens
Pesquisas buscam marcadores biológicos do envelhecimento
segunda-feira, março 11, 2013 | Author: Blog da redação
Por Da Redação - agenusp@usp.br


Pesquisas realizadas no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP buscam mostrar que há meios de avaliar perifericamente (ou seja, por análises sanguíneas) o que ocorre no sistema nervoso central. Os pesquisadores conseguiram identificar três compostos presentes no sangue associados ao envelhecimento cerebral e que poderão, no futuro, abrir caminhos para a identificação precoce, por meio de exames de sangue, de doenças como Alzheimer e demências.

Alzheimer e demências: um longo caminho até um marcador biológico periférico

Os pesquisadores estudaram três compostos presentes no organismo cujos níveis variam de acordo com o envelhecimento: monofosfato cíclico de guanosina (GMP cíclico), óxido nítrico sintase (NOS) e substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS). “O TBARS já é usado como um marcador do envelhecimento cerebral, mas o uso do GMP cíclico e do NOS é inédito”, informa a professora Tania Marcourakis, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da FCF.

Tânia foi a orientadora da dissertação de mestrado da pesquisadora Elisa Kawamoto. O objetivo do estudo foi estudar o sangue (plaquetas) de pacientes com doença de Alzheimer. “Há relatos na literatura científica indicando que a doença é sistêmica, ou seja, atinge o organismo inteiro, mas tem preferência pelo sistema nervoso central”, conta.



Três marcadores
Os pesquisadores compararam as plaquetas de três grupos de pacientes atendidos no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP): 37 adultos jovens (18 a 49 anos), 40 idosos saudáveis sem nenhum tipo de demência (62 a 80 anos) e 53 idosos com Alzheimer (55 a 89 anos). Eles constataram que o envelhecimento aumenta a presença da NOS e da TBARS, e ocorre uma diminuição do GMP cíclico. Mas nos pacientes com Alzheimer esse processo é muito mais intenso, ou seja, a presença de NOS e TBARS é muito superior quando comparada aos outros dois grupos. “A produção excessiva de NOS leva à formação de radicais livres”, comenta a docente.
Junto com o professor Cristóforo Scavone, do Departamento de Farmacologia do ICB, uma outra pesquisa foi realizada com o objetivo de verificar se este quadro também seria encontrado no sistema nervoso central. Para isso, os pesquisadores fizeram o acompanhamento de ratos dos 4 aos 24 meses de idade. Foi possível analisar os adultos jovens (06 meses), os adultos (12 meses) e os idosos (24 meses) e comparar os níveis dos três compostos em duas estruturas do sistema nervoso central: o hipocampo, região do cérebro ligada ao armazenamento da memória; e o córtex frontal, associado ao processo de tomada de decisão e à memória — duas regiões afetadas pelo Alzheimer. Os resultados mostraram resultados semelhantes: o processo de envelhecimento leva a um aumento da NOS e da TBARS e a uma diminuição do GMP, mesmo comportamento verificado no estudo em humanos.
Estudo populacional
A professora lembra que por mais promissores que tenham sido esses resultados, ainda há um longo caminho até que chegue a algum tipo de marcador biológico para ser utilizado como indicador do envelhecimento ou mesmo da chance de desenvolvimento de Alzheimer. Para isso ocorrer seria necessário um grande estudo populacional que fizesse o acompanhamento das pessoas, tanto as sadias como as portadoras da doença. “As alterações nos níveis dos três marcadores estudados podem refletir se a idade biológica é condizente com a idade cronológica. Mas vale lembrar que uma alimentação saudável, a prática de exercícios físicos moderados, aspectos genéticos e a busca por uma boa qualidade de vida são fatores que também podem influenciar esses níveis”, finaliza a pesquisadora.
Os trabalhos contam com a participação dos professores Cristóforo Scavone (ICB), Ana Paula de Melo Loureiro (FCF), Juliana Nery de Souza-Talarico (Escola de Enfermagem), Cassio Machado de Campos Bottino (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), Ricardo Nitrini (FMUSP), Silvia Berlanga de Moraes Barros (FCF) e Rosana Camarini (ICB).
Também fazem parte dos projetos os pesquisadores: Andrea Rodrigues Vasconcelos, Sabrina Degaspari, Ana Elisa Böhmer, Larissa Lobo Torres, Nathalia Barbosa Quaglio, Gisele Tavares de Souza, Raphael Tamborelli Garcia, Lívia Mendonca Munhoz Dati, Wallace Luiz Moreira, Jerusa Smid, e Claudia Selito Porto.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Espécies nativas inibem linhagens de células cancerígenas
segunda-feira, fevereiro 18, 2013 | Author: Blog da redação
Por Da Redação - agenusp@usp.br


Espécies de plantas dos gêneros Croton e Astraea, muito comuns no Brasil, demonstraram atividade antioxidante e antiproliferativa de linhagens de células cancerígenas em experimentos realizados no Instituto de Biociências (IB) da USP. As plantas pesquisadas pela bióloga Daniela Carvalho Ogasawara apresentam extratos que possuem grande capacidade de inibição de linhagens tumorais, como as de câncer de pulmão, mama e leucemia, com potencial parautilização no desenvolvimento de novos medicamentos.

Extrato das folhas apresentou maior eficiência no sequestro de radicais livres
A pesquisa buscou ampliar o conhecimento químico e avaliar o potencial de seis espécies herbáceas nativas da flora brasileira: Astraea comosa, Astraea lobata, Croton lundianus, Croton glandulosus, Croton campestris e Croton triqueter. “Elas pertencem ao mesmo gênero do sangue-de-adave ou sangue-de-dragão, espécies conhecidas por seu látex de cor avermelhada”, afirma Daniela. “Praticamente todos os ecossistemas brasileiros possuem representantes do gênero”.
Os extratos das folhas e dos caules de todas as espécies, em especial a Croton triqueter, apresentaram capacidade de sequestro de radicais livres, com mais eficiência nas folhas. “Para as atividades antiproliferativas, 11 dos 12 extratos demonstraram atividade contra as dez linhagens de células cancerígenas analisadas e nenhum foi tóxico à linhagem de controle, composta por células normais”, destaca Daniela.
As linhagens celulares utilizadas na pesquisa foram de câncer de mama, melanoma, glioma, cólon, ovário resistente a múltiplos fármacos, pulmão, próstata, ovário, leucemia e rim. “Os resultados demonstram alta potencialidade para alguns extratos, como o das folhas de Astrea comosa e das folhas e caules de Croton campestris para as linhagens tumorais de pulmão, mama e leucemia, sugerindo que os estudos sobre eles devem ser aprofundados”, sugere a bióloga.
AnálisesAs folhas e caules das plantas foram submetidas a análises de detecção e identificação de componentes de óleos voláteis (cromatografia a gas) e flavonóides (cromatografia a líquido). “Além dessas análises, os extratos brutos das plantas foram avaliados quanto a sua capacidade antioxidante e antiproliferativa”, conta Daniela.
Como o trabalho se concentrou nos extratos brutos, as substâncias responsáveis pelas atividades não foram isoladas. “Trata-se de um estudo preliminar, para identificar se as espécies possuem ou não potencial para investimentos, publicos e privados, e maiores investigações”, afirma a bióloga. “Muitos experimentos são necessários para que uma das substâncias vire um medicamento, é dificil prever o tempo que será necessário até que o fármaco esteja disponível”.
De acordo com Daniela, diversas espécies dos gêneros Croton e Astraeapossuem atividade comprovada pelos cientistas. “O látex vermelho de Croton lechleri apresenta atividades antibacteriana e inibidora da proliferação de células da leucemia e os extratos aquosos e etanólicos de Croton schideanus têm atividade vasorelaxante e antihipertensiva”, conta. “Na Croton cajucara, comprovaram-se efeitos hipolipidêmico e hipoglicêmico, além de antiestrogênico e antitumoral”.
A pesquisa foi orientada pelo professor Antonio Salatino, do IB, e está descrita em dissertação de mestrado apresentada em abril de 2012. O trabalho faz parte de um projeto coordenado por Saladino sobre química, potencial farmacológico e filogenia molecular de plantas do gênero Croton (Euphorbiaceae), com ênfase em espécies nativas, que deu origem a mais quatro pesquisas de mestrado. A iniciativa tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Foto cedida pela pesquisadora
Simulador veicular avalia os reflexos dos motoristas
quinta-feira, janeiro 31, 2013 | Author: Blog da redação

Da Assessoria de Imprensa da Poli – erika@academica.jor.br
Pesquisa da Escola Politécnica (Poli) da USP criou o protótipo de um simulador veicular que avalia o tempo de reação de motoristas em situações de um potencial acidente de trânsito. O Simulador de Tempo de Reação em Condutores (Sitrec) foi projetado e construído para ser compacto e ter baixo custo, de modo que possa ser reproduzido facilmente por outras instituições de ensino e pesquisa.
Simulador reproduz ambiente da cabine de veículo durante condução no trânsito
O projeto foi desenvolvido pelos alunos de graduação Gabriel Silva e Sérgio Lopes Júnior, do curso de Engenharia Mecatrônica da Poli, que se formaram em 2012 e desenvolveram seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) usando como tema o Sitrec. Também participou o estudante Raphael Francis David, do 3º ano de Engenharia Mecânica, realizando sua Iniciação Científica. A orientação foi do professor Nicola Getschko, do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos da Poli.
Getshcko explica que o projeto teve um forte enfoque aplicativo ao construir um protótipo que pudesse disponibilizado como produto. “A pesquisa criou um simulador com custo inferior aos modelos existentes no mercado, cujo preço é superior a US$100 mil, o que limita a sua utilização”, aponta o professor. “A tecnologia desenvolvida proporciona uma medição bastante confiável e poderá ser adotada também no treinamento de motoristas e em testes para renovação de carteira de habilitação.”
O protótipo de simulador possui 1,6 metro (m) de altura, 0,9 m de largura e 1,8 m de comprimento.  Ele reproduz, de maneira representativa, o ambiente da cabine de um automóvel em situações de condução no trânsito. Um monitor de TV de LED de 32 polegadas apresenta imagens que simulam a visão que o condutor tem do pára-brisa do veículo. O sistema mede quantos milésimos de segundo o motorista leva entre perceber visualmente uma situação de potencial perigo, até o acionamento do freio ou o giro da direção para evitar o acidente. Com os resultados das medições, foi possível avaliar influência de fatores como uso de celular, digitação de mensagem de texto ao telefone, idade, sexo e estado físico sobre o reflexo do motorista ao conduzir o veículo.
Resultados
Os alunos avaliaram possíveis soluções para o projeto de um simulador de baixo custo a partir de pesquisas sobre as principais causas de acidentes de trânsito, estudos ergonômicos, dados estatísticos, e da avaliação de outros simuladores já existentes. Foi elaborado, então, o projeto executivo do simulador, seguido da construção do protótipo, que foi testado inicialmente por um grupo de controle para a implantação de correções e sugestões feitas pelos próprios usuários. Depois de implementadas as melhorias, foi realizada uma nova etapa de testes mais amplos e a análise dos resultados.
Tecnologia poderá ser adotada em testes para renovação de habilitação
O protótipo mostrou-se viável tanto do ponto de vista técnico como financeiro, com um preço estimado entre R$15 mil e  R$20 mil (de US$8,5 mil a US$10 mil), como também nos aspectos de criação de um ambiente “realista” e ergonômico para o condutor, explica o orientador do projeto. O Sitrec poderá ser uma ferramenta muito útil, e de baixo custo, para estudo da influência de diversos fatores que podem afetar a capacidade e o tempo de reação de condutores de veículos, de maneira qualitativa e quantitativa, além da possibilidade de sua utilização em treinamentos e avaliações físicas, tendo em vista a evolução prevista do projeto.
De acordo com o professor da Poli, o preço da construção do simulador poderá ser reduzido em até 30% se ele for produzido em grande escala. “O protótipo já foi validado e agora serão realizadas novas pesquisas no sentido de aprimorar a sensação de realidade para o usuário, com aperfeiçoamento da movimentação de imagens e dos sons produzidos pelo sistema”, planeja. “A meta é tornar a simulação mais próxima as situações de condução no trânsito real.”
Há grande preocupação com a redução do número de acidentes de trânsito no Brasil, porém muitas das iniciativas no sentido de criar normas e leis para que isto ocorra carecem de um melhor embasamento científico, que permita atuar realmente sobre os fatores podem causar esta diminuição. Muitas vezes, a falta de uma tecnologia acessível que possa auxiliar as autoridades neste sentido impede que se proponham políticas públicas mais eficazes.
Foto: Divulgação
Cooperação científica traz avanços para tratar leucemia
terça-feira, janeiro 22, 2013 | Author: Blog da redação

Da Assessoria de Comunicação do Hemocentro de Ribeirão Preto –tatiana@rspress.com.br
Estudo de consórcio internacional de cientistas mostra que, por meio do networking e da educação médica, é possível obter resultados promissores e, sobretudo, semelhantes, no âmbito do resultado terapêutico e da qualidade dos cuidados empreendidos em casos da onco-hematologia. O Consórcio Internacional da leucemia promielocítica aguda (LPA) conseguiu reduzir em quase 50% a mortalidade precoce em pacientes com a doença em países em desenvolvimento, em comparação com as nações desenvolvidas. O estudo é coordenado no Brasil pelo médico hematologista Eduardo Rego, do Centro de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto (CTC-HRP), ligado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP.
Controle de casos e sobrevida dos pacientes tiveram melhoras operacionais
A LPA, doença-alvo da pesquisa, apresenta elevado índice de mortalidade precoce, mas tem bom prognóstico se detectada e tratada em fase inicial. Rego explica que o estudo também obteve uma melhoria operacional nos controles de casos, resultando em sobrevida e sobrevida livre da doença semelhante aos relatados em países desenvolvidos.
Outras seis instituições brasileiras de referência participam do Consórcio: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, Fundação Hemope (Pernambuco); Universidades Federais de São Paulo (Unifesp), do Paraná (UFPR) , Minas Gerais (UFMG) e Rio Grande do Sul (UFRGS). Completam a lista México, Chile e Uruguai, além de instituições dos Estados Unidos e Europa.
No período de junho de 2006 a setembro de 2010, foram acompanhados um total de 183 pacientes, sendo 122 do Brasil, 30 do México, 23 do Chile e oito do Uruguai. Em novembro de 2011, o prontuário foi atualizado. Destes, 153 (85%) atingiram remissão completa; 27 (15%) morreram até o 30º dia de tratamento (precoce), entre o diagnóstico e a primeira avaliação morfológica da medula óssea; sendo 9 casos com óbito na primeira semana. As causas principais das mortes foram hemorragia (48,1%), infecção (25,9%) e síndromes diferenciadas (18,5%).
“Uma das características dessa doença é a elevada mortalidade nos primeiros dias após o diagnóstico. Pesquisa realizada em 10 centros brasileiros, antes da formação do consórcio, observou que tal mortalidade girava acima de 30%. Com a experiência e a estratégia adotada pelo Consórcio essa taxa caiu pela metade. Verificamos ser possível chegar a uma taxa de sobrevida de 80%”, afirma Rego.
Terapia
Outro aspecto apontado pelos pesquisadores no resultado é o fato de a maioria das mortes durante a indução serem causadas por hemorragia, portanto é a coagulopatia associada à LPA que deve ser apontada como efeito tardio em programas de educação médica, pois pode ser combatida com a administração precoce do ácido all-trans-retinóico (ATRA) e quimioterapia, que utiliza uma classe de drogas denominada “antracíclicos”.
Existem diversos tipos dessa substância, entretanto o mais utilizado no exterior é a idarurrubicina, de elevado custo. O estudo mostrou que outra droga da mesma classe – a daunorrubicina, de menor custo e mais facilmente encontrada no mercado brasileiro – pode alcançar os mesmos resultados. “Foi uma demonstração muito clara em nossa pesquisa. Estabelecemos parâmetros entre os dois medicamentos”, aponta Rego. O especialista explica que os pacientes do consórcio usaram daunorrubicina e os resultados em termos de remissão completa foram extremamente semelhantes ao uso de idarrubicina, aplicada, por exemplo, no protocolo espanhol, Programa para el Estudio de la Terapéutica en Hemopatía Maligna (PETHEMA).
Como a leucemia promielocitica aguda está sempre associada a alguma lesão cromossômica específica que envolva os cromossomos 15 e 17, é possível detectar um gene anômalo, formado exatamente pela fusão destes dois pontos de quebra na célula da leucemia. Com isso, é possível monitorar o tamanho da massa tumoral, utilizando-se métodos, por exemplo, de reação em cadeia de polimerase (PCR), tanto qualitativo quanto quantitativo.
“A partir deste método, conseguimos mostrar que o melhor momento para avaliarmos a resposta ao tratamento é após a segunda fase da quimioterapia (fase de consolidação – sendo a primeira a fase de indução e, a terceira, a de manutenção). Observamos que os resultados positivos após a fase de indução não previam a recaída do paciente, ao passo que resultados positivos após a fase de consolidação mostravam isso. Além disso, demonstramos, em alguns poucos casos de má evolução, a possibilidade de detectar a alteração molecular antes da recaída clínica. Com isso, conseguimos instituir o tratamento antes mesmo de o paciente ter uma franca recaída da doença”, expõe Rego.
O estudo Improving acute promyelocytic leukemia (APL) outcome in developing countries through networking, results of the International Consortium on APL foi publicado nesta semana na revista Blood, periódico científico de referência mundial na especialidade da Sociedade Americana de Hematologia (ASH, na sigla em inglês). Segundo Rego, que também é membro da diretoria da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH),  o Consórcio Internacional da LPA foi criado com o objetivo de estabelecer uma rede entre países em desenvolvimento que pudessem trocar experiências e dados de seus pacientes, e receber apoio de grupos de referência da Europa e Estados Unidos. O fomento do estudo foi exclusivamente de iniciativa pública. No Brasil, o financiamento foi provido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Foto: Marcos Santos / USP Imagens