Eles só sabem que nada sabem
terça-feira, dezembro 22, 2009 | Author: Blog da redação
Por Roberto Lopes

Na noite desta quinta-feira, antevéspera do Natal de 2009, o canal de TV a cabo Discovery Channel apresenta mais um de seus infindáveis especiais sobre a pesquisa histórica acerca da vida de Jesus Cristo.
O programa Who was Jesus? (“Quem foi Jesus?”) será levado ao ar às 21h, amparado nas especulações de pesquisadores e historiadores, e numa recriação artística do dia a dia na região da Galiléia, 2000 anos atrás. Nada muito diferente do especial sobre a infância de Jesus, que o mesmo Discovery tem apresentado nas últimas semanas.
Mas o que esses programas evidenciam é que a investigação sobre a infância e a adolescência do Cristo da Igreja Católica ainda reúne pouquíssima informação digna de crédito. E isso pelo simples motivo de que não há relatos de testemunhas dessas fases da vida de Jesus de Nazaré.
Sabemos que ele cresceu numa família modesta, e era filho de um judeu que não trabalhava com a agricultura; José era, possivelmente, um carpinteiro da Galiléia. Quase todas as informações disponíveis provêm dos evangelistas, que escreveram suas obras até a segunda metade do século 1 – mas nenhum deles chegou a conhecer Jesus pessoalmente.
Lucas e Mateus escreveram algumas passagens sobre os primeiros anos de vida do Cristo, mas os outros dois evangelistas, João e Marcos, só relataram episódios protagonizados por um Jesus adulto.
Ninguém sabe ao certo o dia e o ano exatos de seu nascimento, dados indispensáveis a qualquer biografia. A data de 25 de dezembro foi estabelecida de modo convencional por líderes cristãos no final do século III.
O que sim, os historiadores afirmam, é que Jesus não poderia exibir o tipo físico com que foi idealizado pela Igreja, de cabelos e olhos claros.
Um dos escassos registros da infância de Jesus é seu encontro com os sábios no Templo de Jerusalém, a quem surpreendeu com sua inteligência e a argúcia de suas perguntas acerca, possivelmente, dos ensinamentos da Torá – conjunto de livros que constitui a obra mais sagrada dos judeus.
A família de José havia ido a Jerusalém para as festas da Páscoa, o Pessach judeu. Eles estavam voltando a Nazaré quando perceberam que Jesus não acompanhava a caravana. José e Maria voltaram angustiados para procurá-lo, e o encontraram três dias depois no Templo.
“Por que me procurais? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai?”, lhes perguntou serenamente o menino de 12 anos, segundo os relatos dos evangelistas.
Um documentário também exibido no Brasil, no início de 2009, pelo canal Discovery, noticiou a identificação de um túmulo onde teriam sido enterrados Jesus Cristo, seus pais, Maria e José, e Maria Madalena.
Intitulado The Lost Tomb of Jesus (“O Túmulo Perdido de Jesus”), o documentário foi produzido por James Cameron, director do filme Titanic, e pelo arqueólogo Simcha Jacobovici para o canal, após três anos de preparação. No entanto, a comunidade científica ironizou o seu conteúdo.
O suposto túmulo foi encontrado em 1980 no subúrbio de Talpiot, em Jerusalém. Na ocasião, os arqueólogos encontraram dez caixões (repositórios de ossos) e três crânios. Em alguns dos esquifes havia inscrições que foram traduzidas como “Jesus, filho de José”; “Judá, filho de Jesus”; “Mariamne”; “Maria”; “José” e “Mateus”.
Testes de DNA nos resíduos dos ossos verificaram que não havia parentesco entre os ossos de Jesus e de Mariamne. Com isso, Cameron concluiu que ambos só poderiam ocupar a mesma tumba se fossem casados. Além disso, passou a defender que Mariamne seria o nome verdadeiro de Maria Madalena. Em outras palavras, o documentário de Cameron e Jacobovici tenta relacionar os nomes encontrados aos da família da Jesus e argumenta que Jesus e Maria Madalena foram casados e tiveram um filho (Judá).
Em entrevista à agência de notícias France Press, Amos Kloner, o arqueólogo israelita que descobriu a tumba e a documentou como a sepultura de uma família judaica, foi, contudo, muito claro: “Insisto no fato de que é uma tumba comum no século 1 antes de Cristo”. Kloner garantiu que “os nomes eram uma coincidência e o filme [documentário] é uma bobagem”.
Eixo Afeganistão-Paquistão consumirá esforço adicional da Cruz Vermelha em 2010
terça-feira, dezembro 15, 2009 | Author: Blog da redação
Por Roberto Lopes

A imagem, não há como escapar, é a do saco sem fundo.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) vai gastar, ano que vem, um orçamento 7 % maior que o de 2009 em assistência médica, e praticamente tudo será absorvido pelas necessidades crescentes de assistência às populações do Afeganistão e do Paquistão – países convulsionados por diversos grupos guerrilheiros, entre os quais o talibã e a Al Qaeda.
Relatório divulgado no início do mês, em Genebra, apresenta como prioridades: (a) ampliar a capacidade dos hospitais de campanha no Paquistão; (b) melhorar o acesso dos necessitados ao atendimento primário (saúde básica) e aos primeiros socorros; (c) aumentar a ajuda aos centros ortopédicos (que acolhem mutilados por minas terrestres) em países como o Afeganistão; e (d) consolidar a prestação de serviços primários de saúde em favor de pessoas prisioneiras.
A Cruz Vermelha Internacional tem 12 mil funcionários que trabalham em 80 países. Do seu orçamento de 1,1 bilhão de francos suíços (cerca de 2 bilhões de reais) previsto para 2010, pelo menos 983 milhões de francos serão consumidos no atendimento de campo. O Afeganistão será, em princípio, a maior operação humanitária do CICV: 86 milhões de francos suíços --aumento de 18% comparado ao orçamento inicial de 2009 – que servirão ao trabalho de 1.500 médicos, enfermeiros e elementos dos serviços de apoio. O Iraque consumirá verba quase igual: 85 milhões de francos suíços; e o Sudão, 76 milhões de francos suíços.
Em 2008 a Cruz Vermelha atendeu cerca de 3,5 milhões de pessoas nos seus centros de saúde. Somente em 21 países foram realizadas mais de 108 mil cirurgias.
Uma análise da Diretoria de Operações da entidade mostrou dados alarmantes. Primeiro: na maior parte dos países em que o CICV opera, sua presença tem se revelado necessária há 20, 30 ou mesmo 40 anos – o que significa dizer que essas nações não tem conseguido resolver seus problemas de guerras e de insuficiência na prestação dos serviços básicos de saúde. Os cenários mais dramáticos, nesse caso, são os do Oriente Médio e da África.
Característica de várias situações de conflito é a combinação de um Estado frágil, com infraestrutura em colapso e conflitos internos, misturados a atores movidos por metas políticas e apoiados por grupos criminosos. A esse coquetel explosivo somam-se circunstâncias amplamente desfavoráveis, como degradação ambiental, seca, enchentes e pandemias. O resultado final: populações inteiras extremamente vulneráveis.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha está convencido de que o conflito no Afeganistão está se expandindo e se intensificando. A entidade opera no país há 30 anos, e nunca enfrentou tantos riscos como agora. As rotas de deslocamento das suas equipes são comunicadas de forma ampla às forças internacionais de segurança, ao Exército afegão e à guerrilha talibã, mas isso não tem resultado em maior segurança para as suas atividades.
Há, contudo, vitórias pontuais de importância indiscutível. Em 2007 a Cruz Vermelha conseguiu que equipes do Ministério da Saúde afegão e da Organização Mundial de Saúde fizessem uma campanha de vacinação contra a poliomielite no interior do país.