Trabalho exaustivo nos canaviais será regulado
quarta-feira, janeiro 05, 2011 | Author: Blog da redação
Por Roberto Lopes

O caráter exaustivo e potencialmente ameaçador ao funcionamento do organismo humano identificado na rotina dos cortadores de cana, está na mira das autoridades paulistas da Saúde.
Estudo inédito, feito com base em inspeções coordenadas pela Vigilância Sanitária Estadual, concluiu pela necessidade urgente de uma regulamentação da atividade profissional nas lavouras de cana-de-açúcar. O objetivo é melhorar, de forma consistente, as condições sanitárias no dia-a-dia desses trabalhadores braçais.
O estudo constatou que, apesar de todas as recomendações do governo estadual – e das comprovações técnicas acerca da eficiência obtida pela mecanização da colheita --, na grande maioria das plantações ainda existe o corte manual da cana – uma rotina repetitiva, praticada à exaustão. A cada um minuto trabalhado são feitas 17 flexões de tronco pelo cortador, e aplicados 54 golpes de facão. O joelho fica todo o tempo semiflexionado, e há extensão da cervical. Muitas cortadoras de cana procuram assistência médica por causa de câimbras severas.
Não há sombra nos canaviais e o cortador não se hidrata adequadamente. Por dia, são cortadas e carregadas, em média, 12 toneladas de cana, e percorrido um percurso de quase nove quilômetros. Ao final da jornada diária, o cortador perdeu oito litros de água.
Os trabalhadores já levam de casa a água potável que consumirão no campo, reabastecendo seus galões (quando possível) nos reservatórios dos ônibus que os transportam. Mas esses recipientes de armazenamento não são refrigerados, e apresentam péssimas condições de estocagem e higiene. Em 40% dos casos, a água fornecida pelas usinas e pelos fazendeiros aos cortadores de cana não vêm de fontes tratadas – assim, ela nem sempre atende aos requisitos de potabilidade.
Também foi verificada a falta de local adequado para esses trabalhadores braçais realizarem suas refeições. Pior: as marmitas que eles levam para a lavoura ficam acondicionadas de forma imprópria. Muitas vezes a comida fermenta ou azeda. Como o corte da cana consome muita energia, os cortadores acabam ingerindo aquele alimento, mesmo que ele esteja estragado.
Apesar de ser um segmento altamente lucrativo, o setor sucroalcooleiro ainda oferece condições de trabalho que, em geral, são de má qualidade, colocando em risco a saúde dos colaboradores destacados para os canaviais.
Desde 2007, a Secretaria capacitou 500 profissionais de todo o estado para fazer a fiscalização nas lavouras. Nesse período, foram inspecionadas 148 usinas, mas as autuações não passaram de 102.
Já existe uma normatização estadual para as condições sanitárias dos alojamentos onde ficam os cortadores. Mas essas regras vão, agora, se estender ao trabalho diário nos canaviais.
|
This entry was posted on quarta-feira, janeiro 05, 2011 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.

0 comentários: